quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O país e Dilma na direção do fundo do poço

Ricardo Noblat
O PT brincou com fogo e se queimou. Parece um amendoim torradinho.
Havia, de um lado, um homem-bomba, Eduardo Cunha, capaz de se imolar caso não encontrasse uma saída para salvar seu cargo de presidente da Câmara e seu mandato.
Até abriria mão do cargo se não tivesse outro jeito, mas do mandato, não. A política foi o melhor negócio da vida dele até aqui. Dedicou-se a ela com entusiasmo e ambição. Deu-se bem.
Deu-se mal quando mentiu a seus pares ao negar que tivesse contas bancárias no exterior. Teve 5 pelo menos. Mentir é pecado mortal numa casa, o Congresso, onde todos mentem.
O PT, que resolveu apostar suas fichas na destruição de Eduardo, não era páreo para ele no jogo de cartas. Negou-lhe três votos necessários para que ele se salvasse no Conselho de Ética da Câmara.
Por algumas horas, ontem, o comando nacional do PT, afinado com as tendências mais à esquerda do partido, celebrou o entusiasmo com que militantes do PT receberam sua decisão de confrontar Eduardo.
Finalmente, o partido levantara a cabeça e fizera a opção por si mesmo, sua História, seu passado, sua fama imerecida, como se vê hoje, de refratário a concessões espúrias.
Durou pouco.
Tão logo Eduardo anunciou que acolhera o pedido de abertura de impeachment contra Dilma, o entusiasmo da militância esfriou, esvaiu-se por fim. Cedeu espaço à perplexidade e ao medo.
Pesquisas de opinião conferem que 65% dos brasileiros são favoráveis ao impeachment. Cerca de 40% creem que o impeachment será possível.
E se os 65% atenderem aos pedidos que serão renovados de ocuparem as ruas para pressionar o Congresso a aprovar o impeachment?
Sem as ruas, Dilma vencerá a batalha para concluir seu mandato. Só precisa do apoio de 171 dos 513 deputados federais para enterrar o impeachment.
Contra as ruas, tem tudo para perder. De resto, conspira pelo impeachment o aprofundamento da crise econômica.
É uma crise histórica. O país só viu outra maior às vésperas da queda de Fernando Collor em 1992. E, antes, na década de 40 do século passado.


O país ainda não atingiu o fundo do poço. Nem Dilma atingiu. Os dois — o país e Dilma — poderão chegar juntos ao fundo do poço. Ele sobreviverá. Ela, não.

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